quinta-feira, março 27, 2008

FAÇAM SEU JOGO, SENHORES

Por Antônio Reis (Jornalista)

Ainda se fala, pouco já, mas se fala, da estapafúrdia operação "Cartas Marcadas", que prendeu, num verdadeiro festival circense, mais de trinta pessoas, em Angra dos Reis, entre empresários, fiscais de instituições governamentais ambientalistas, membros do governo municipal (Executivo), incluindo secretários e outras pessoas a eles ligadas. É claro que, como se esperava, nada avançou até agora, seis meses depois e, mais uma vez e, também como se esperava, a população está sendo rotulada de idiota, de otária, porque se alvoroçou, em alguns casos sofreu, em outros se regozijou, mas tudo em vão. A montanha pariu um rato e até o camundongo inocente se limitou a um gemidinho assustado de momento, logo se calando e voltando a urrar como sempre fez.
Fulano e sicrano eram ladrões, tinham roubado mais de 80 milhões do dinheiro do povo, suado e mal pago, iam ser processados, julgados e condenados, etc. e etc..
Você viu alguma coisa mais acontecer? Nós também não.
Mas vamos supor, agora, um quadro que não é surrealista, que não é apenas divagatório, mas de uma realidade e atualidade assustadoras.
Imaginem que, uns quatro ou cinco meses antes, aí por volta de maio ou abril do ano passado (a denúncia da operação "Cartas Marcadas" foi em setembro, se não me falha a memória), alguém de dentro da prefeitura, do primeiro escalão, tivesse em mãos, devidamente documentado, um dossiê denúncia sobre concessão de licenças ambientais no município notoriamente fraudulentas, abrangendo projetos sem projeto, iniciativas altamente comprometedoras para o meio ambiente angrense e ao arrepio de toda a legislação. E, ainda por cima, sem autorização ou conhecimento oficial da prefeitura, que jamais autorizou esses projetos, que não foi nem consultada, nem tampouco a Agência Nacional das Águas, o Ibama, a Feema ou os próprios órgãos ambientais municipais, como mandam as leis. E imaginemos que tudo isso tenha sido perpetrado por entidades governamentais ligadas a um importante - pelo menos para Angra dos Reis - ministério, com sede, obviamente, em Brasília, mas com secretaria especial no Rio de Janeiro, que, aliás, assinou e expediu as fraudulentas autorizações.
A pergunta que não quer calar é a seguinte:
Se o servidor municipal do Executivo, do alto escalão, tivesse recebido toda essa documentação, devidamente acompanhada das provas fundamentais e, sem dizer nada para ninguém, a tivesse simplesmente engavetado, até hoje, sendo que os responsáveis por essas autorizações fraudulentas fossem altos membros do governo federal, com ramificações no Rio de Janeiro e em Angra dos Reis; imaginemos o que teria acontecido se tudo isso tivesse sido revelado e denunciado ao Ministério Público, logo em abril ou maio de 2007?
Alguém acredita que a operação "Cartas Marcadas" tivesse acontecido? Ou que tanta gente tivesse sido presa e execrada em praça pública?
Nós não acreditamos. Mas ainda é tempo de repor a verdade no seu lugar. De um lado e de outro. E não estamos falando, simplesmente, em aliviar ou limpar a barra de todos os que foram denunciados e presos na citada operação...

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