segunda-feira, março 24, 2008

ANGRA ESTÁ PROMETENDO

Por Tony Varella (antropólogo e colaborador deste blog, a partir de hoje)

Não é de hoje que Angra sofre com numerosos casos de dengue, todos os anos. E não é, apenas, também, nos períodos de maior calor e chuvas. Claro que essas épocas são mais propícias à eclosão da doença mas, infelizmente, ela manifesta-se durante todos os meses do ano, até no tempo chamado seco e frio. Lamentavelmente, o aedes aegipt vive o ano todo. Ocorre apenas que, com calor e mais água, ele prolifera com mais liberdade e rapidez - na verdade, só com mais rapidez, porque liberdade ele sempre teve.
E Angra parece gostar disso. Angra, não; as autoridades responsáveis pela saúde no município, sim. O secretário de saúde, Dr. Amílcar Caldellas, não deve viver neste rincão perdido da Costa Verde. Também não fala nada, como, aliás, é traço marcante de sua personalidade. Talvez porque respeita a antiga máxima popular:"em boca fechada não entra mosca (ou mosquito), nem sai besteira".
A verdade é que o estado do Rio de Janeiro, neste ano fatídico de 2008, registra a maior epidemia de dengue da sua história. A cidade capital pediu ajuda ao exército e evita, de forma politicamente correta, falar em hospitais de campanha. Mas a realidade é que as tendas instaladas para hidratação, exames e outros procedimentos anti-dengue, são isso mesmo: hospitais de campanha diante de uma situação de calamidade pública.
O nosso brilhante ministro Temporão, qual fruta nascida fora do tempo, vem a público, pelas câmeras de televisão, anunciar que o estado está perdendo essa batalha contra a doença. E que, na próxima semana, se os deuses assim permitirem, o exército definirá de que jeito vai prestar ajuda ao Rio.
Estão, mais uma vez, debochando da nossa inteligência.
Mas, como ministro a gente sequer elege... ele é sumariamente nomeado pelo Presidente da República, depois de ouvidos e acomodados os interesses dos aliados e outros companheiros - o povo que se dane! - não nos resta muito mais coisas a fazer, a não ser reclamar e, quiçá, encontrar algum responsável sózinho e de jeito para lhe dar uma coça; brincadeirinha... em democracia, infelizmente, a gente não pode nem chamar de palhaço a quem usa nariz vermelho e rosto pintado, quanto mais dar uma boa coça num deles... Eles podem, claro. Passam a vida nos chamando de otários, palhaços e outras coisas piores. A gente, pobre povo marcado e sofrido, é que não!
Mas, sigamos adiante. Estávamos comentando o caso de Angra dos Reis, pérola de incomparável beleza no litoral da Costa Verde. Aqui, a gente também não deve nem pode xingar ninguém de filho da mãe para cima. Mas sempre podemos reclamar.
Onde estão os carros de fumacê? Os autênticos, não os de fumaça paraguaia. Onde estão as medidas enérgicas - de pé na porta, se necessário for - para acabar com os focos da terrível doença? Não esqueçamos que, lamentavelmente, em Angra morreu um dos dois primeiros bebês vítimas da dengue deste ano, que já fez algumas dezenas de vítimas fatais.
As casas de veraneio, mansões aferrolhadas, casulos de inconfessáveis pecados da "gente bem", continuam fechadas. Abri-las com o uso da força é violêncioa que sequer passa pela mente dos nossos responsáveis pela saúde pública. Serão responsáveis mesmo?
Quantas pessoas vão precisar morrer ainda para sairmos das conferências, palestras, forças tarefa e quejandos contra a dengue e passarmos para uma ação decidida e contundente que nos deixe razoavelmente a salvo da terrível epidemia que, neste trágico 2008, se instalou em nosso estado?
O povo, esse saco de pancadas masoquista - que sempre apanha mas, na hora de votar, troca sua escolha por um milheiro de tijolos ou uma cesta básica, generosamente prometidos pelos nossos candidatos a vereadores - ou, melhor dizendo, varridores, já que o que fazem de melhor é varrer, sabe Deus para onde (e nós sabemos também), o nosso suado dinheirinho, que deveria ser gasto com a execução de obras e serviços de que nós precisamos; pois esse povinho, que tem muito de safado, no sentido elogiável do termo, como disse o saudoso Amoacir Lage, está cansado, literalmente cheio da prosápia desavergonhada de muitos dos sujeitos nos governam e está prometendo, avaliando pelo que se escuta pelas esquinas e vielas da nossa mal iluminada cidade - e na porta do Café Favorito - partir para a ação e começar uma quebradeira como Angra nunca viu na sua história quinhentista. Por isso, senhores (ir)responsáveis, achamos bom que comecem a escutar com mais atenção a voz rouca das ruas. É lá que mora a verdasde e habitam os augúrios da nossa era cibernética.
Pelo que se escuta, os alvos principais e prioritários serão os bens, eufemisticamente ditos duráveis, de alguns de nossos políticos, responsáveis por determinados setores da cidade...

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