terça-feira, março 25, 2008

ELE estava lá!

Por Antônio, o de Cabral (eterno colaborador deste Blog)

Vocês lembram do Carlinhos, o funcionário daquela lanchonete angrense, cujo nome eu disse e repito que não vou repetir? Pois é. Na verdade, ele é o "dr" José Carlos Soares (nome pomposo, não?). O que o nome tem de pomposo, seu dono (dono do nome) tem de vaidoso e metido a pessoa muito mais inteligente que os outros. É brincadeira, Carlinhos! Você é um cara inteligente, sim. Não tanto como você acha, mas é, assim mesmo, mais inteligente que a média dos frequentadores do bar onde você trabalha - e onde o seu talento como contador de histórias não é reconhecido. De qualquer forma, não é mais inteligente do que eu. Quanto a isso, desista! Eu também sou teimoso e metido a bonzão...
Mas aqui vai outra história deliciosa que o meu amigo Carlinhos, agora "dr" José Carlos Soares para os menos íntimos, me contou um dia desses:
Um navio seguia mar afora quando, de repente, não mais que de repente, sofreu uma grave pane - nem o Titanic se lhe compara! - e catrapimba! Afundou todinho, carregando com ele todos os passageiros e tripulantes, menos um.
O abençoado sobrevivente, agarrado a um pedaço de isopor feito de raiz de mandioca - era ecologicamente correto - conseguiu nadar até uma praia, que descobriu ser de uma ilha deserta, perdida sabe Deus onde, no meio daquele oceano imenso. O nosso amigo chegou na praia e a primeira coisa que fez foi ajoelhar e rezar, agradecendo a Deus por ter lhe salvo a vida depois de tão horrendo e trágico acidente. Mas aí pensou: "Meu Deus, eu te agradeço, mas estou morrendo de sede!" Naquele mesmo instante, um coco caiu aos pés dele - estava embaixo de um coqueiro e nem se tinha apercebido.
Voltou a ajoelhar na areia e orou. E agradeceu, porque Deus tinha escutado sua prece. Mas logo pediu: "Senhor, sede eu já não tenho mais. Obrigado! Mas está anoitecendo e eu não possuo um abrigo para passar a noite e..." Não precisou continuar. Meia dúzia de folhas de coqueiro e mais algumas folhas verdes de bananeira, espantosamente trazidas por um vento misterioso, cairam aos seus pés. Com elas, nosso sobrevivente do naufrágio fez uma resistente cabana, que lhe serviu de abrigo seguro nessa noite - e certamente serviria por muitas outras, pois navio parece que era coisa que não passava por aquela rota há anos...
Dormiu e, no dia seguinte, acordou com fome. E se ajoelhou mais uma vez e pediu: "Senhor, me deste com que matar a sede. Obrigado! Me deste com que construir um abrigo. Obrigado! Mas eu estou com fome, Senhor. Vou procurar o que comer. Por favor, me ajuda a resolver mais esta contrariedade". (Mas que o cara era chato, isso era!) E saíu em busca de comida.
De repente, uma tempestade terrível se abateu sobre a praia e a ilha, assim, do nada, com raios e trovôes rasgando os céus como anteprojeto do apocalipse. Assustado, o nosso náufrago se encolheu embaixo de uma laje e esperou que os céus se acalmassem.
Mas não foi isso que aconteceu. Um raio certeiro, como que disparado por um arqueiro campeão olímpico, acertou sua resistente cabana, na praia, feita de folhas e mato e, em poucos segundos, tudo ardia, soltando uma fumaça densa e branca que se elevava nos ares, gingando como bailarina de dança do ventre em noite inspirada. Desesperado, o nosso amigo olhou para o céu e chorou, lamentando-se.
"Pôxa, Senhor! Até agora tens me dado tudo o que eu te peço e eu tenho te louvado e agradecido. Por que, Senhor, mandas agora esta tempestade e o raio que incendiou meu único abrigo? Não me parece justo, Senhor! Me deste tudo e, agora, parece que queres me destruir o pouco que tenho! Por que, Senhor? Que fiz eu para merecer tua ira, desse jeito?"
E continuaria se lamentando e se queixando de Deus, se um apito agudo não despertasse sua atenção nesse instante. Olhou para o oceano e viu um navio de carga ancorado a menos de uma milha da praia. Um bote impulsionado por três marinheiros que remavam vigorosamente navegava para a praia. O nosso sobrevivente esqueceu todas as suas queixas e correu para lá, onde foi abraçado pelos três marinheiros. Um deles, um oficial, riu abertamente e, emocionado, disse:
"Meu amigo, você é um sujeito muito inteligente. Se não tivesse feito sua cabana com folhas secas e verdes misturadas e não tivesse pegado fogo nelas, fazendo aquela fumaça toda, que se vê a milhas de distância, nós teríamos passado ao largo e nem saberíamos que você estava aqui, perdido. Você foi, realmente, muito inteligente!"
Até hoje, os marinheiros não sabem explicar por que o náufrago caíu de joelhos e chorou feito uma criança durante quase uma hora, olhando para o céu.

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