quarta-feira, abril 09, 2008

LEVARAM MEU SIRI, MINHA VARA E MEU PEIXINHO!

Tony Varella

(Antropólogo e colaborador deste Blog, a partir de hoje - Isto está virando coisa séria, pessoal)
Assim já é sacanagem! Não se faz uma coisa dessas, nem de brincadeira. Mas fez-se. Ou melhor, faz-se. Quem? O nosso preclaro governo federal, através do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente).
Pois é verdade, amigo leitor. Se você é uma daquelas pessoas que, como eu, adora dar banho na minhoca, nos fins de semana ou nos finais de tarde mais estressantes da semana, esqueça. Até isso está ficando caro. Eu explico. Tem muita gente, por esse mundão de Deus, que gosta por demais de pegar numa vara, ou numa simples linha de pesca com um anzol na ponta e sentar numa pedra ou na beira do cais e jogar a linha, com anzol, isca e tudo, nas águas poluídas da nossa baía, como uma forma simples e barata de higiene mental, fingindo que pesca. Na maior parte das vezes, a água é tão poluída que nem dá para levar para casa o pobre e raquítico peixe que se deixa fisgar pelo anzol. Ele é prosaicamente devolvido às águas sujas e a gente continua exercitando a paciência, tentando soprar o estresse para longe, em elucubrações mais ou menos filosóficas, meditando no sentido da vida e no por que da maldade humana.
Era assim, amigo leitor. Não é mais tão simples.
O governo federal lembrou-se de criar uma nova lei, uma licença para pescador amador, esteja ele na costeirinha, na margem do cais ou numa simples canoa a poucos ou muitos metros da orla. Para se dedicar a esse tão singelo como inofensivo hobby, agora, é obrigatório obter uma licença do Ibama, pagando uma taxa de R$ 60,00. Os fiscais do Ibama, como não têm nada de mais útil para fazer, estão atentos, pelas praias, costeiras, ancoradouros e baías. E se pegarem algum pescador de linha de fim de semana, seja fingindo apanhar um ou outro peixinho fugidio ou, até mesmo, um pobre e magrinho siri, sem que esteja munido da citada licença, é pesadamente multado e todo o seu equipamento (vara, molinete, linha, anzol, isca e, até bote, se o estiver usando) além de todo o fruto da sua paciente pescaria é confiscado.
É verdade, amigos. Quando me contaram eu também não acreditei. Só quando um amigo que, como eu, possui esse péssimo hábito predador, me mostrou o formulário do Ibama, já preenchido e pago no banco, com a indefectível autenticação mecânica, eu me rendi à evidência dessa absurda licença.
Entretanto, as lanchas dos bacanas continuam adentrando as praias, sendo aí lavadas e largando nas areias o óleo e outras sujeiras, algumas outras encostam em qualquer lugar do litoral municipal, estadual ou federal e descarregam as drogas nossas de cada dia, os verdadeiros predadores desmatam e destroem o meio ambiente, secam os riachos e poluem lagos, rios e mares, sem que sejam incomodados pelos fiscais do nosso instituto federal de proteção ambiental.
Uma amiga nossa ficou estarrecida. Seu sobrinho, criança de sete ou oito anos, sofrendo de um problema cardíaco que o inibe de brincadeiras mais esforçadas, adora pescar nos fins de semana, no cais de Angra. Agora terá que possuir licença do Ibama! Sinceramente, senhores! Será que não há ninguém que mostre aos responsáveis pelo Instituto que seus fiscais são muito mais úteis e necessários em tantas e tantas outras funções, como proteger, realmente, o meio ambiente?
Parece brincadeira, mas não é. Basta visitar um posto do IBAMA e pedir o formulário para a licença de pesca amadora. Aí estará a comprovação de que, infelizmente, estamos diante de mais uma pulhice absurda e sem tamanho, de mais uma forma canalha de arrancar dinheiro do bolso do povo.
De quem será a brilhante cabeça que pariu essa estapafúrdia idéia?

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