sábado, abril 19, 2008

QUE DEMOCRACIA PRATICAMOS?

Vanessa Seik

Bióloga e analista política

Viver em democracia pressupõe uma série de direitos e deveres, de cedências e exigências que, presumivelmente, todo o mundo deveria conhecer. Parece que não é isso que acontece. Pelo menos neste nosso Brasil sui generis, de quem De Gaulle dizia “Este não é um país sério!”, o que parece ter escandalizado muita gente. E, o mais dramático, na minha modesta opinião, é que o general e presidente francês estava certo, pelo menos no conceito lato da palavra. Porque, neste momento, somos levados a concluir que, por aqui e neste governo, lídimo representante do povo trabalhista, presidido por um ex-sindicalista, o significado de democracia está passando muito longe do seu vocabulário ou de suas idéias e conceitos sociais, políticos e ideológicos. Embora tenhamos que ressalvar que o comportamento de um membro do governo de determinado país não pode nem deve significar que todo esse país é igual a ele.

Muita gente acredita – e com bons motivos para isso, bastando para tanto visitar a maior parte das reservas ou terras, ou áreas, como lhes quiserem chamar, onde habitam os índios brasileiros, coisa que o presidente nunca fez nem fará, sem aparato e encenação prévias – muita gente, dizia eu, acredita que a política indigenista brasileira é uma piada de mau gosto. O mesmo parece achar, com muito mais propriedade, o general Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia e oficial superior altamente respeitado por todo o corpo militar brasileiro. Sobre a política deste governo em relação aos indígenas, aos índios, que ele, melhor como ninguém, dado o seu cargo atual, deve conhecer muito melhor do que o presidente ou seus assessores palacianos e o ministro da Defesa, o general declarou que ela, como querem o governo, empresários e políticos, está sendo feita com demarcações de forma errada. Noutro trecho de suas declarações, o general teria dito que a política do governo está errada, quase caótica. E, finalmente e o que parece ter irritado principalmente os políticos de Brasília (Lula incluído), o Exército não existe para servir o governo da vez, mas a Nação, o Estado brasileiro. Disse ou fez alguma coisa ofensiva, injuriosa, contra quem quer que seja? Acredito que não.

Pois o nosso ilustre presidente Luiz Inácio da Silva não gostou nada e, imediatamente, chamou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, para cobrar explicações sobre as declarações do general Augusto Heleno. E, a acreditar no que divulga a mídia, o nosso ilustre presidente manda que os superiores repreendam o general!

Sinceramente! Faça-me o favor, senhor presidente e meu funcionário mais elevado! A democracia e a Carta Magna brasileira postulam que todos podem e devem ter opinião própria e livre e poder manifestá-la, especialmente quando dela discordam e ela possa estar prejudicando algum setor da sociedade, por mais minoria que seja. E quanto a quem serve o Exército, ou qualquer outra autoridade, civil ou militar, isso, a mim, parece não ser, sequer, passível de discussão: devem servir ao povo, à Nação, ao Estado tomado nesse sentido e não ao governo ou seus elementos constitutivos que, em determinado momento, estiverem ocupando os postos respectivos.

Com que direito, então, V. Sa. acha que pode agir dessa forma e dar esse exemplo para quem, supostamente, governa?

Nenhum comentário: