sábado, junho 28, 2008

O MINISTRO DA SAÚDE E A EMPADA

Vanessa Seik

Ambientalista e bióloga

Colunista do jornal A Palavra (realart@ig.com.br)
de Angra dos Reis,litoral sul fluminenn
se

Mais de vinte crianças já morreram em hospital do Pará, por falta de estrutura e recursos, médicos, para-médicos e físicos; inclusive financeiros e de gestão.

Pelo país todo, salvo raras e honrosas exceções, o quadro geral da saúde pública é calamitoso, devastador de vidas, de consciências e de esperanças.

Angra dos Reis, de onde estamos escrevendo, não é diferente, pese embora o discurso afinado dos responsáveis que, enquanto tentam dourar a pílula com a promessa de melhorias e divulgação de excelentes mas duvidosos resultados, nesta ou naquela área, vão acrescentando que muito ainda há por fazer... e não é feito, como uma reforma séria e honesta da política de saúde da região.

Hospitais de todo o Brasil, postos de saúde e pessoal do corpo clínico, especialistas das mais diversas modalidades médicas da área pública, clamam contra a falta de condições de trabalho e de investimento na saúde, o que leva à doença (prevenir é o melhor remédio) e, com uma freqüência aterradora, à morte de milhares de cidadãos.

O programa Saúde da Família, criado inteligente pelo governo de FHC, no tempo em que José Serra era ministro da saúde, foi sendo sucateado e hoje quase não existe mais, na maior parte do Brasil.

Em Angra até já mudou de nome. Mas não mudou o seu sucateamento. Hoje chama-se, eufemisticamente, Estratégia Saúde da Família (ESF). A mudança de nome não melhorou o programa. Pelo contrário. Os princípios básicos que regulavam o seu funcionamento foram desaparecendo, como poeira no espaço.

A verdade é que, a nível nacional, apesar da propaganda ao SUS - outra grande idéia que está sendo sucateada, - os cidadãos, sofridos e mal pagos, vão sendo vilipendiados, despidos de alguns de seus mais elementares direitos, como o da saúde, previsto sabiamente na Carta Magna de 88: faltam médicos, remédios nas farmácias sociais, as farmácias de R$ 1,00 são uma piada (em Angra, por exemplo, você dificilmente encontra o remédio de que precisa e que “está em falta” na farmácia social, ou que lhe tenha sido receitado por qualquer médico, o programa que obriga o Estado a fornecer determinado medicamento, cujo preço a maioria da população não pode pagar, é tão burocrático que se torna ineficaz, a fiscalização às instituições e serviços da saúde pública (seja federal, estadual ou municipal), quando feita, não resulta em nada, mesmo quando se detectam situações de gritante fraude, malversação de dinheiros públicos, péssimas gestões. Enfim, a lista de mazelas da saúde é vastíssima e muito triste de enumerar. Todo o mundo a conhece, dos pacientes aos governantes.

Enquanto isso, o nosso preclaro ministro da saúde, José Gomes Temporão, teve a brilhante idéia (pelo visto apoiado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) - é impressionante como se criam siglas milagrosas e enganadoras para iludir o povo fornicado e ... você sabe o resto - de avançar contra os fast foods, hanburger, cachorro quente, salgadinhos, refrigerantes, sorvetes e outros alimentos por eles considerados potencialmente perigosos para os jovens e crianças! Simplesmente, o ministro deve ter perdido a noção do que faz e do mundo e época em que vive!

Recentemente, uma caixa do diário O Globo, sob o título “E a empada, ministro, pode?”, isso porque o pai do nosso brilhante governante, o português José Temporão, no seu restaurante no centro do Rio de Janeiro, tem como atração e orgulho da casa, a famosa empada de camarão, cuja receita é secreta, mas deliciosa, dá a medida do tamanho da bobagem ministerial. E o papel da Anvisa, em todas estas décadas, do discernimento e autoridade dos pais, do Conar (Conselho Regulador da Atividade Publicitária), etc., onde ficam? No lixo? E os prejuízos à economia nacional? E à liberdade de escolha do cidadão?

Em resumo: com tantos e tão mais graves problemas na saúde pública, o responsável maior, nesta era lulo-sindicalista maluca, não tem com o que se preocupar?

Sinceramente, senhor ministro, com todo o respeito, o senhor só pode estar brincando, gozando com a nossa cara e paciência. Não é mesmo?

Por favor, senhor ministro, volte ao trabalho para o qual foi escolhido pelo seu guru. Reforme a saúde pública, salve a vida de milhares ou milhões de cidadãos doentes deste país. E pare de nos amolar com tanta sandice! Com todo respeito!

Nenhum comentário: